Antes de Cristo ser julgado, várias
tentativas foram feitas para prendê-Lo, mas todas sem sucesso (“Procuravam pois prendê-lo outra vez, mas
Ele escapou-se de suas mãos.” João 10:39).
Numa delas, os sacerdotes e os
fariseus ficaram indignados com os soldados que voltaram de mãos vazias. Dessa
vez, a frustrada tentativa não recaiu sobre o medo da reacção da população, que
não aceitaria a prisão de Cristo, mas porque os soldados ficaram atónitos com
as Suas palavras. Eles disseram aos sacerdotes que “Nunca homem algum falou assim como este Homem.” (João 7:46). Os sacerdotes, indignados com os soldados, os
repreenderam e disseram que ninguém da cúpula judaica havia acreditado n’Ele,
apenas os “incultos” (“Creu n’Ele
porventura algum dos principais ou dos fariseus? Mas esta multidão, que não
sabe a Lei, é maldita.” João 7:48,49).
O que não era verdade, pois vários sacerdotes e fariseus admiravam e
acreditavam em Cristo, mas tinham medo de declarar isso em público (“Apesar de tudo, até muitos dos principais
creram n’Ele, mas não o confessavam…porque amavam mais a glória dos homens do
que a glória de Deus.” João 12:42,43).
Mas apesar de várias tentativas
frustradas, chegou o momento de Ele ser traído, preso e julgado. Ele
impressionou os soldados que o prenderam, por se entregar espontaneamente, sem
qualquer resistência (“Sabendo pois
Jesus todas as coisas que sobre Ele haviam de vir, adiantou-se, e disse-lhes: A
quem buscais?” João 18:4).
Além disso, intercedeu pelos Seus
discípulos que O acompanhavam, pedindo aos guardas que os deixassem ir (“Jesus respondeu: Já vos disse que sou eu;
se pois me buscais a mim, deixai ir estes.” João 18:8). Assim, no momento da Sua prisão continuou a ter
atitudes incomuns; ainda havia disposição n’Ele para cuidar do bem-estar dos
Seus amigos.
Quando sofremos só temos disposição
para aliviar a nossa dor, mas quando Jesus sofria ainda havia disposição n’Ele
para cuidar dos outros. E não apenas isso. Na noite em que foi traído, a Sua
amabilidade e gentileza eram tão elevadas que teve reacções impensáveis para
com o Seu próprio traidor. Vejamos:
Cristo foi traído e preso no jardim do
Getsémani. Era uma noite densa e Ele estava orando e esperando esse momento (“…Pai é chegada a hora…” João 17:1). Então, Judas aparece com um grande número de
guardas. Cristo tinha todos os motivos para repreender e julgar Judas. Todavia,
Mateus diz que, nesse momento de profunda frustração, Ele foi amável com o Seu
traidor e chamou-lhe amigo, dando-lhe, assim, mais uma oportunidade para que
ele se interiorizasse e repensasse no seu acto.
Judas, no momento antes, fez um falso
elogio: “Eu te saúdo Rabi” (Mateus 26:49), e o beijou. Jesus, porém, lhe disse: “Amigo, a que vieste?” (Mateus 26:50). Aqui há algumas considerações a serem feitas. O
facto de Judas beijar Cristo indica que Ele, Cristo, era amável demais. Judas,
embora o estivesse traindo, sabia que Ele era amável, dócil e tranquilo (“Tomais sobre vós o meu jugo, e aprendei
de mim, que sou manso e humilde de coração…” Mateus 11:29). Judas sabia que não era necessário o uso de
nenhuma agressividade, nenhuma embosca ou armadilha para prendê-Lo. Um beijo
seria suficiente para que Cristo fosse reconhecido e preso naquela noite.
Qualquer pessoa traída tem reacções de
ódio e de agressividade. Por isso, para prendê-la são necessários métodos
agressivos de segurança e contenção. Entretanto, Cristo era diferente. Judas
sabia que Ele não reagiria, que não usaria qualquer tipo de violência e muito
menos fugiria daquela situação, portanto bastava um beijo. Em toda a História
da Humanidade, nunca alguém foi traído de maneira tão suave.
Cristo sabia que Judas o trairia (“Tendo Jesus dito isto, turbou-se em
espírito, e afirmou, dizendo: Na verdade, na verdade vos digo que um de vós me
há-de trair.” (João 13:21),
e estava aguardando por ele. Quando Judas chegou, Cristo não o criticou nem se
irritou com Ele. Teve uma reacção totalmente diferente do nosso padrão de
inteligência. O normal seria ofender o agressor com palavras e gestos diante do
medo de ser preso. Porém, Cristo não teve essas reacções. Ele teve a coragem de
chamar ao seu traidor amigo!
Perdemos com facilidade a paciência
com as pessoas. Dificilmente agimos com tranquilidade quando alguém nos
aborrece e nos irrita. Desistimos facilmente daqueles que nos decepcionam.
Judas desistiu de Cristo, mas Cristo
não desistiu de Judas. Ele deu-lhe até ao último momento uma preciosa
oportunidade para que ele reescrevesse a sua história.
Que amor é esse que irrigava as emoções
de Cristo em ambientes desesperadores? Em que mesmo no ápice da Sua dor, chama
ao Seu traidor de amigo e estimula-o a rever a sua vida? (“As muitas águas não poderiam apagar este amor, nem os rios afogá-lo…”
Cantares
8:7).
Nunca, na História, um traidor foi
tratado de maneira tão amável e elegante! Cristo falava de um amor estonteante.
Um amor que irriga o sentido da vida e o prazer da existência.
Um amor que se dá, que vence o medo,
que supera as perdas, que transcende as dores, que perdoa (“Tudo sofre, tudo crê, tudo suporta.”
1Coríntios
13:7).
A uns Ele dizia: “Não chores”, a outros “Não
temas” e ainda a outros “Tende bom ânimo”. Ele estava sempre
animando, consolando, compreendendo e envolvendo as pessoas e encorajando-as a
superar os seus temores, desesperos, fragilidades e ansiedades.
Somente o amor de Deus, expresso em
Jesus Cristo, torna as pessoas insubstituíveis, especiais, ainda que não tenham
status social ou cometam erros e experimentem fracassos ao longo das suas
vidas.
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