O Apóstolo Paulo deixou-nos uma riqueza teológica e ética de um valor incalculável. Quando lemos, por exemplo, as epístolas aos Tessalonicenses vimos Paulo a apelar à santidade. As epístolas aos Coríntios exortam à imitação de Cristo. Aos Romanos somos estimulados a vivermos para a justiça de Deus que há em Jesus Cristo. Aos Colossenses, Paulo lembra a Igreja que Cristo em nós é a esperança da glória.
Mas
é aos Filipenses que o Apóstolo fala nas mais profundas verdades espirituais
para moldar o perfil e os contornos da vida cristã. Ele escreve sobre uma vida
completamente centralizada em Cristo (“Porque para
mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho.” 1:21).
Paulo
adota de bom grado um credo que considera tudo “como perda” em favor de
conhecer Cristo, o poder da Sua ressurreição e a participação nos Seus
sofrimentos (“Mas o que para mim era ganho,
reputei-o perda por Cristo.”; “Para conhecê-Lo, e à virtude da Sua
ressurreição, e à comunicação das Suas aflições, sendo feito conforme à Sua
morte.” 3:7,10).
Fala
de um desejo de sepultar o passado e caminhar para as coisas que estão adiante
(“Irmãos,
quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que,
esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante
de mim. Prossigo para o alvo, pelo prémio da soberana vocação de Deus em Cristo
Jesus.” 3:13,14).
E
é nos primeiros dez versículos do capítulo três que encontramos o relato da
mudança radical de Paulo. E esta mudança começa com a reformulação das
ambições e expetativas da sua vida.
A
chamada que o Senhor Jesus faz é diferente daquela que os rabis faziam aos seus
discípulos. A chamada do Senhor Jesus exige aceitação, entendimento, vida e
divulgação. Não é a adoção de uma filosofia e expressá-la por meio de um
determinado comportamento. Tão pouco é o cumprimento de certos ritos. Carregar
a cruz não é um ritual! É uma chamada para se juntar ao Senhor Jesus e seguir
com Ele!
Paulo
é intercetado pelo Senhor na estrada de Damasco e confrontado com as questões
mais importantes da sua vida:
-
Seria a sua missão uma mentira, uma ilusão?
-
Aquele a quem ele “perseguia” o estaria desafiando a revelar o Messias
crucificado e ressurreto? Ao responder afirmativamente Às duas perguntas, Paulo
entrega-se a Cristo e toma a sua cruz!
Neste
capítulo três, ele exibe a sua linhagem e os impressionantes recursos de que
era possuidor: A sua vida como religioso antes do encontro com o Senhor. Ele
fala dos bens que herdara desde o nascimento e dos recursos que obtivera por
meio da capacidade pessoal. Ele interpretava a Lei com precisão e provara a sua
devoção a essa mesma Lei, ao perseguir os que não a cumpriam, chegando a
considerar a ele mesmo “irrepreensível” (3:6).
Mas
o que aconteceu a caminho de Damasco assolou aquelas convicções. Os valores
judaicos mais elevados, pureza de raça, zelo ardente, moralidade, tornaram-se
inúteis para Paulo.
O
espantoso veredito a que Paulo agora chega é que o que há de melhor aos olhos
dos judeus, nenhum valor tem para ele agora!
As
consequências dessa experiência são registadas nos versículos
7 e 8: “Mas o que para mim
era ganho, reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda
todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor;
pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como esterco,
para que possa ganhar a Cristo.”
Existe
uma diferença radical entre o Paulo fariseu e o Paulo cristão. O seu encontro
com o Senhor é uma inversão grandiosa. Os seus pontos culminantes
transformam-se em abismos, a sua segurança em desorientação, a sua luz em
trevas, e as suas qualidades em defeitos.
A
cruz exige que sigamos as pegadas de Cristo. Ele abriu mão dos Seus direitos
como Deus, enquanto nós, muitas vezes, queremos ter todos os direitos! A cruz
exige um não ao egoísmo, um não ao eu!
Paulo
abandona o “eu” em prol de uma Pessoa e de um propósito: Descobrir Cristo e
conhecê-Lo (“Para conhecê-Lo, e à virtude da Sua
ressurreição…” 3:10).
O seu desejo agora não é perseguir aqueles que seguiam o Senhor, mas antes o
seu desejo é compartilhar uma vida íntima e absoluta com o Senhor ressuscitado!
A
renúncia a um estilo de vida (“…não tendo a minha
justiça que vem da Lei…” 3:9),
a favor de outro estilo (“…a saber, a justiça
que vem de Deus pela fé.” 3:9).
Isto
é o que (devia) ocorre quando renunciamos ao nosso “eu” ao aceitarmos o perdão
do Senhor Jesus.
O
mundo precisa desesperadamente de uma espiritualidade autêntica como a de
Paulo. Neste tempo que estamos a viver, Deus anseia por pessoas que dêem um
passo em frente, tomem a cruz e O sigam!
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