quinta-feira, 8 de junho de 2023

A TEOLOGIA DA CRUZ

     O Apóstolo Paulo deixou-nos uma riqueza teológica e ética de um valor incalculável. Quando lemos, por exemplo, as epístolas aos Tessalonicenses vimos Paulo a apelar à santidade. As epístolas aos Coríntios exortam à imitação de Cristo. Aos Romanos somos estimulados a vivermos para a justiça de Deus que há em Jesus Cristo. Aos Colossenses, Paulo lembra a Igreja que Cristo em nós é a esperança da glória.

Mas é aos Filipenses que o Apóstolo fala nas mais profundas verdades espirituais para moldar o perfil e os contornos da vida cristã. Ele escreve sobre uma vida completamente centralizada em Cristo (“Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho.” 1:21).

Paulo adota de bom grado um credo que considera tudo “como perda” em favor de conhecer Cristo, o poder da Sua ressurreição e a participação nos Seus sofrimentos (“Mas o que para mim era ganho, reputei-o perda por Cristo.”; “Para conhecê-Lo, e à virtude da Sua ressurreição, e à comunicação das Suas aflições, sendo feito conforme à Sua morte.” 3:7,10).

Fala de um desejo de sepultar o passado e caminhar para as coisas que estão adiante (“Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim. Prossigo para o alvo, pelo prémio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” 3:13,14).

E é nos primeiros dez versículos do capítulo três que encontramos o relato da mudança radical de Paulo. E esta mudança começa com a reformulação das ambições e expetativas da sua vida.

A chamada que o Senhor Jesus faz é diferente daquela que os rabis faziam aos seus discípulos. A chamada do Senhor Jesus exige aceitação, entendimento, vida e divulgação. Não é a adoção de uma filosofia e expressá-la por meio de um determinado comportamento. Tão pouco é o cumprimento de certos ritos. Carregar a cruz não é um ritual! É uma chamada para se juntar ao Senhor Jesus e seguir com Ele!

Paulo é intercetado pelo Senhor na estrada de Damasco e confrontado com as questões mais importantes da sua vida:

- Seria a sua missão uma mentira, uma ilusão?

- Aquele a quem ele “perseguia” o estaria desafiando a revelar o Messias crucificado e ressurreto? Ao responder afirmativamente Às duas perguntas, Paulo entrega-se a Cristo e toma a sua cruz!

Neste capítulo três, ele exibe a sua linhagem e os impressionantes recursos de que era possuidor: A sua vida como religioso antes do encontro com o Senhor. Ele fala dos bens que herdara desde o nascimento e dos recursos que obtivera por meio da capacidade pessoal. Ele interpretava a Lei com precisão e provara a sua devoção a essa mesma Lei, ao perseguir os que não a cumpriam, chegando a considerar a ele mesmo “irrepreensível” (3:6).

Mas o que aconteceu a caminho de Damasco assolou aquelas convicções. Os valores judaicos mais elevados, pureza de raça, zelo ardente, moralidade, tornaram-se inúteis para Paulo.

O espantoso veredito a que Paulo agora chega é que o que há de melhor aos olhos dos judeus, nenhum valor tem para ele agora!

As consequências dessa experiência são registadas nos versículos 7 e 8: “Mas o que para mim era ganho, reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como esterco, para que possa ganhar a Cristo.”

Existe uma diferença radical entre o Paulo fariseu e o Paulo cristão. O seu encontro com o Senhor é uma inversão grandiosa. Os seus pontos culminantes transformam-se em abismos, a sua segurança em desorientação, a sua luz em trevas, e as suas qualidades em defeitos.

A cruz exige que sigamos as pegadas de Cristo. Ele abriu mão dos Seus direitos como Deus, enquanto nós, muitas vezes, queremos ter todos os direitos! A cruz exige um não ao egoísmo, um não ao eu!

Paulo abandona o “eu” em prol de uma Pessoa e de um propósito: Descobrir Cristo e conhecê-Lo (“Para conhecê-Lo, e à virtude da Sua ressurreição…” 3:10). O seu desejo agora não é perseguir aqueles que seguiam o Senhor, mas antes o seu desejo é compartilhar uma vida íntima e absoluta com o Senhor ressuscitado!

A renúncia a um estilo de vida (“…não tendo a minha justiça que vem da Lei…” 3:9), a favor de outro estilo (“…a saber, a justiça que vem de Deus pela fé.” 3:9).

Isto é o que (devia) ocorre quando renunciamos ao nosso “eu” ao aceitarmos o perdão do Senhor Jesus.

O mundo precisa desesperadamente de uma espiritualidade autêntica como a de Paulo. Neste tempo que estamos a viver, Deus anseia por pessoas que dêem um passo em frente, tomem a cruz e O sigam!

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